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4/17/2010

O 'eterno' debate sobre os efeitos da pirataria

Publicada por Aníbal Meireles |

Segundo esta notícia da TVNET, "A pirataria em Espanha está a chegar a níveis tão elevados que a Sony Pictures Entertainment está a pôr em causa a distribuição de DVD."

As organizações de defesa dos direitos dos grandes estúdios cinematográficos (e também as das editoras discográficas) gostam, aliás, sempre gostaram, já no tempo da cassete, de culpar a pirataria pelos maus resultados, tentando dessa forma impor aos governos, através das mais variadas pressões e "pessoal infiltrado no sistema", medidas cada vez mais draconianas que se intrometem na nossa liberdade.

O artigo que citei acima, a título de mero exemplo de iniciativas que saltam para a imprensa quase semanalmente (veja-se aqui mais um exemplo), esquece-se de referir uma quantidade apreciável de factores que podem explicar, também, este declínio:

- a distribuição de vídeo digital, através dos videoclubes dos assinantes de cabo/fibra;

- o novo formato Blu-ray, sucessor do DVD;

- a internet em geral como meio de entertenimento, que ocupa cada vez mais horas do tempo de lazer (e como o dia não estica, alguém sai com menos quota de mercado);

- o Youtube, que parecendo que está englobado no ponto anterior, e está, é uma fonte gigante de vídeo, concorrente directo, mas gratuito, em relação ao DVD;

- a televisão em si, sendo que com as boxes e media centers com possibilidade de gravação de séries e filmes para ver quando se quiser e puder, também retira muito tempo útil para se ver seja filmes ou séries em DVD;

- os jogos de computador e consolas, que estão cada vez mais realistas, jogados ainda por cima nos televisores LCD de alta definição da sala, retirando protagonismo aos filmes que usam o mesmo meio de transmissão. 

E sobre este último ponto umas palavras adicionais: esta indústria, além de permitir maior realismo com o passar dos anos, permite também interactividade, não só pela sua essência, mas ganha folêgo acrescido quando a experiência é partilhada com jogadores espalhados pelo mundo, algo que um filme terá muita dificuldade em ultrapassar conceptualmente. Os videojogos geram cada vez mais milhões, fazendo frente à industria cinematográfica.

Os dados da indústria de videojogos por contraposição à cinematográfica relativos a 2008, além de um marco histórico - o cinema foi ultrapassado pela primeira vez pelos videojogos em receitas geradas -, são exemplificativos da tendência que veio para ficar.

Portanto, em vez de arranjarem desculpas com a pirataria, os grandes estúdios deviam concentrar-se em inovar de forma inteligente, que não recorra necessariamente ao despejo de somas astronómicas num projecto e, principalmente, em escrever uma boa história. Continua a ser das melhores fórmulas. E baixar o preço dos produtos também ajudaria. Parecendo que não, a pirataria não reflecte só a suposta "amoralidade" do consumidor, é também um claro sinal que o mercado envia relativamente ao preço, mas que convém a estes executivos ignorar.

Com tamanha concorrência, que tive oportunidade de expor acima, o consumidor tem uma panóplia alargada de escolhas cada vez mais apetecíveis, gerando uma alteração nas suas prioridades e mais importante, no valor que atribui a cada bem de consumo. Se a indústria não percebe isto, é porque é incompetente. Não é enfiando pela goela dos consumidores o preço que se quer que se vai conseguir seja o que for. Nem com mil governos atrás.

Manter o preço para justificar a pirataria em vez de investir num produto de qualidade a preço justo, que fomentasse um acréscimo na procura legal, e em consequência aumentasse os lucros em vez de os diminuir é algo que não entra na cabeça dos executivos toldados pela ganância e que não sabem adaptar-se à mudança dos tempos.

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