O Tecnocas

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6/24/2009

A Nostalgia - 3 de 3

Publicada por Aníbal Meireles |

Eu tenho este hábito de não terminar aquilo que começo, mas, como estou sempre a tempo de mudar, decidi-me a finalizar esta trilogia de posts hoje, aqui e agora.

Para quem não se lembra do tema deste post tripartido eu recordo: as minhas aventuras e desventuras com um vestusto computador de secretária Compaq Presario CDS 720, dos idos de 1995.

Tinha ficado em 1997, ano em que entrei finalmente na Internet pela mão da Telepac.

Os primeiros tempos de Internet tiveram tanto de interessante como de instável. Por um lado a tecnologia era nova e convidava à descoberta, por outro havia a incerteza sobre o que fazer com ela numa base regular. Que sites visitar ? Não foi uma altura de criar hábitos de consulta, até porque em termos gráficos a coisa não era muito apelativa e o elemento multimédia era quase inexistente devido à reduzida largura de banda das ligações. Era quase que uma curiosidade de pioneiro, à descoberta de terreno totalmente desconhecido, a pouco e pouco.

E depois havia o preço, como já tinha referido na segunda parte. E foi justamente o preço que me levou a mudar para o primeiro fornecedor privado de internet em Portugal, a Esotérica, que tinha um plano de pagamentos trimestral fixo, o que era bastante apetecível na hora de controlar os gastos mensais. As coisas eram tão artesanais na época que ainda guardo envelopes da empresa manuscritos e manuais de configuração fotocopiados a preto e branco em normais folhas A4 dobradas ao meio.

Em 1999 comprei um modem novo. Da estonteante velocidade de 33.6 kbps passei para um modem de 56 kbps. E mais uma vez, as coisas eram artesanais: de tão caros que os modems eram, apesar de mais baratos dois anos depois, a empresa à qual eu tinha comprado o primeiro modem em 1997, recebeu-o de volta e descontou um valor bastante apreciável na compra do novo!

Claro que a linha telefónica de cobre que chegava a casa era velha e nunca consegui mais do que 42 kbps. Fiquei a meio caminho portanto.

De seguida actualizei a memória para 16 MB e depois para 32 MB de RAM. Estas últimas actualizações foram já em 1999 e 2000, altura em que a memória RAM já tinha um preço acessível à carteira de gente menos abonada. Como tudo o resto no computador ficava na mesma, o acrescento de memória, principalmente dos 16 para os 32 MB já não tinha um impacto tão profundo como no início. Em 1999 já estavam no mercado os Pentium III, a funcionar a frequências de 450Mhz para cima, e com uma panóplia de tecnologias que remetiam o meu Compaq unica e exclusivamente para as tarefas mais básicas.

Ainda tentei actualizar o processador para um AMD 5x86 a 133 Mhz, que, apesar do nome, mais não era do que um 486 muito potente, mas sem sucesso. Curiosamente, anos mais tarde, recuperado da gaveta a que foi votado, o mesmo processador funcionou na perfeição durante meses! Nunca irei saber ao certo porque é que uns anos antes a coisa não resultou.

Em 2000 e 2001 já pouco utilizava o computador: o disco, sempre o mesmo, estava a abarrotar, era difícil navegar na internet com um software cada vez mais pesado à medida que ia sendo actualizado, o IRC já tinha dado o que falar, e jogos só dos antigos, o que me deixava o e-mail e o processamento de texto como funções principais da máquina. Havia dias, às vezes uma semana inteira em que o computador não sabia o que era um electrão a passar-lhe nos fios!

No início de Dezembro de 2001 chegou o meu novo computador! Lufada de ar fresco! Renasci para a informática e para a internet, que continuava lenta (56 kbps ainda). Mas agora dava um salto de gigante. E assegurei-me de que ficava bem equipado. Ainda sem entrar no terreno, ainda pouco conhecido para mim, de montar um computador, encomendei a uma empresa portuguesa um computador à minha medida. Na altura um moderníssimo e poderoso Pentium 4 a 1.7 Ghz, com 256 Mb de Ram, um disco de 40 Gb a 7200 rpm, uma drive gravadora de CD's, uma drive leitora de DVD's, e uma placa gráfica nVidia Geforce 2 MX400 com 32 Mb. Ah, e um modem de 56k e um moderníssimo Monitor LCD da LG de 15 polegadas. O sistema operativo era o Windows XP, acabadinho de sair (saiu em finais de Outubro, o computador foi encomendado em Novembro), na versão inglesa, a minha preferida e de qualquer das formas a única disponível na altura em Portugal.

Nessa altura o Compaq foi alvo do que normalmente se faz: copiar todos os documentos para disquetes (outra raridade) em jeito de backup/transferência para o novo computador e votá-lo, a pouco e pouco aos recantos do pó. E assim foi.

Eis senão quando a minha mãe, que de computadores nada percebia, se vê necessitada de começar a utilizá-los no trabalho dela. O Compaq aparece assim como uma oportunidade para ela. Sejam bem-vindos ao Compaq, o processador de texto!

Como a internet ainda era a 56k e não se conseguia partilhar, o Compaq ficou sem acesso à Internet, o que também não faria grande falta à minha mãe, dada a ignorância inicial em relação à dita, e também porque em bom rigor o computador não iria aguentar.

E assim, ligado a uma impressora a jacto de tinta, também ela com alguns anos, o Compaq serviu fielmente a minha mãe desde 2002 a 2006. Durante esse tempo ainda lhe fiz três mudanças: acrescentei memória até uns inimagináveis (para 1995) 86 Mb de RAM, de um máximo de 100, o processador AMD 5x86 funcionou durante alguns meses sem qualquer problema como já tinha referido, até que lhe comprei, em segunda mão e por um preço muito em conta, um Cyrix 5x86 a 100 Mhz, a jóia da coroa que o Compaq podia ter em termos de processador.

Posteriormente também comprei um Pentium Overdrive a 83Mhz novinho em folha, ainda selado na caixa de origem, de 1995, e, embora funcionasse, havia alguns problemas de corrupção de imagem, pelo que voltei ao Cyrix, o processador mais equilibrado e potente, um misto entre a arquitectura do 486 e do Pentium, ou seja, um misto entre a arquitectura de 4.ª e 5.ª geração, e que ainda hoje funciona impecavelmente.

Durante esse tempo ainda tive a ideia peregrina de tentar proporcianar à minha mãe uma melhor experiência, pelo que engendrei um plano que consistia em comprar o Windows 98 Second Edition original pela internet, comprar uma placa de rede, de modo a poder ligá-lo também à internet, através do meu computador ou de um router, e ainda comprar um disco rígido em segunda mão, um pouco maior do que aquele que o Compaq tinha.

Comprei o Windows 98 SE, e a placa de rede - novinha em folha, selada na caixa de origem, directamente de 1997. A experiência correu menos bem: não consegui comprar nenhum disco que me agradasse, o Windows 98 Se era demasiado grande para o disco actual, e nunca cheguei a configurar devidamente a placa de rede no Windows 95.

Em finais de 2005, inícios de 2006, dei início a um rejuvenescimento do meu computador, pelo que no final acabei com o meu computador de 2001 efectivamente fora da caixa. Resultado: a minha mãe fornecia uma caixa nova com fonte de alimentação e uma drive de disquetes e eu fornecia tudo o resto. E assim em 2006 a minha mãe ficou com um computador apto a entrar também ela na Internet e a fazer muito mais coisas para além do processamento de texto.

E assim o Compaq via-se finalmente remetido ao merecido descanso.

Porém, eis que surge 2009 e o bichinho que eu tinha de lhe dar um uso e não o deixar sem funcionar, levou-me a retomar o projecto. Faltava apenas o disco rígido. Encontrei um à medida: 6 GB, 5400 rpm. Nada mau para quem tinha um de 420 MB a 3600 rpm. Consegui instalá-lo, após uma dor de cabeça com a necessidade de substituir a drive de CD-ROM que começou a funcionar só de vez em quando. Havia drives de CD-Rom que funcionavam, mas que faziam com que o disco não funcionasse. Com várias drives de CD-ROM e dois discos, e vários cabos, foi um autêntico jogo de paciência para tentar perceber qual era o problema e a forma de o resolver. Como devem calcular, informações sobre como resolver problemas num computador de 1995 não se encontram ao virar da esquina, nem mesmo na Internet.


Resumo: no fim de contas consegui instalar o Windows 98 SE, com todas as actualizações, instalei o browser Opera mais recente (uma das poucas marcas que ainda fazem browsers actualizados para o Windows 98 SE), instalei também o Office 2000, o mIRC e ainda o MSN Messenger 5.0, a última versão a funcionar com o processador que o computador tem. A placa de rede funciona na perfeição, e aceder à Internet de banda larga é uma realidade! Algo de inacreditável! A placa de rede tem uma velocidade máxima de 10 Mbps, comparado com os 56kbps da internet através de modem.

Claro, aceder à internet dura uma eternidade, o computador tem pouca memória, o processador é lento, e a placa gráfica tem apenas 1 Mb de memória para mostar as imagens, o que faz com que tenha de estar constantemente a mudar o conteúdo que tem na memória para mostrar as actuais páginas da internet, complexas e cheias de fotografias. Claro está, ver vídeos no Youtube é uma miragem onírica, mas usar o office, nomeadamente o Word ou o Excel (desde que folhas de cálculo relativamente simples), ou falar no mIRC ou no messenger é uma possibilidade em tempo real.

Já estive a falar no messenger e só se eu o disser é que alguém sabe, de outro modo ninguém do outro lado percebe que eu estou num computador de 1995, orgulhosamente com um pé no futuro, fazendo a ponte entre o início da massificação dos computadores e da internet e o momento actual. E ainda posso jogar os jogos de antigamente tal como eles foram feitos, sem necessidade de emuladores pelo meio.

E assim chega ao fim este post tripartido, que em bom rigor devia ter cinco partes. Este post em concreto devia ter sido dividido em dois, e um quinto post devia ficar reservado para aquilo que eu ainda tenho reservado para o Compaq. Sim, ainda falta fazer três coisas: aumentar a memória até aos 100 Mb (fácil), expandir a memória de vídeo de 1 para 2 MB (muito difícil de encontrar) e dotar o Compaq de 128k memória cache de segundo nível (também muito difícil de encontrar). Se um dia vos ultrapassar num PC de 1995 não se espantem! Além do que é ecológico, visto que os computadores daquela era gastam muito pouca eletricidade! Se a moda pega até os actores de Hollywood que têm a mania de comprar um Prius se põem de volta dos seus velhos pc's (not!)

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