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3/08/2009

O Magalhães, os outros netbooks, e o estado do país

Publicada por Aníbal Meireles |

Ponto n.º 1: o Magalhães é uma treta.

Ponto n.º 2: quase todos os outros netbooks também.

Vamos por partes:

1. Já todos sabemos que o Magalhães não passa do Classmate 2 da Intel. É tudo igual. Até a pega azul, que eu cheguei a ler algures que era a única coisa que era obra nossa! E até pode ser que seja, mas é só o fabrico, porque a pega é igual, azul e tudo, ao que se vende lá fora (embora também haja em cinzento escuro).


Também já todos sabemos que o Magalhães tem um disco rígido. Em vez de um disco de memória flash, que não tem peças amovíveis, decidiram usar um disco rígido normal. E nem consta que o disco tenha qualquer sistema de prevenção, como alguns portáteis empresariais, que detectam movimentos bruscos e estacionam as cabeças de leitura/gravação 'para não riscar o disco'. Portanto, para crianças, um disco rígido é tão bom como ouvir a Fernanda Câncio na TVI 24.

Na realidade, um disco de memória flash iria encarecer o produto, e o orçamento de Estado. E por um preço razoável ainda são pequenos, além do mais. Existe portanto uma razão válida para excluir, para já, os SSD's (solid state drives), ou discos de memória flash, como também são chamados.

Ok, portanto foram usar um disco rígido. De 30GB. Em 2001 havia computadores de mesa com 40GB! E os netbooks normais têm discos de 80 ou 160GB! Netbooks esses que, para o público em geral, custam o mesmo que o Magalhães!

Perguntam: mas se não é para guardar filmes nem fotos, que diferença faz ?

A resposta é simples: a J.P. Sá Couto, que monta o Magalhães em Portugal, inclui no disco rígido, não um, mas DOIS SISTEMAS OPERATIVOS: o Windows XP e o Linux Caixa Mágica. Portanto, mudar de um jogo educativo para outro pode implicar reiniciar o computador... brilhante.

Sim, sim, eu já estou a ver os professores com a formação necessária para difundir as vantagens do software de código aberto... e os miúdos daquela idade com uma enorme apetência pelo assunto. Parece-me claramente que quiseram meter a praia toda numa camioneta de transporte de sardinhas. (Não seria esta uma boa iniciativa, mas para o E-escolas ?)

Mais, como os Srs. da J.P. Sá Couto não quiseram gastar dinheiro em CD's ou pens/cartões de recuperação do sistema, decidiram fazer uma partição no disco rígido que contém as cópias de salvaguarda de AMBOS os sistemas operativos. Resultado: o disco, que é ridiculamente pequeno, vem de fábrica praticamente cheio.

Mas o que me espantou mesmo foi a inqualificável gestão do software educativo. Mais de 80 erros de português ? E ninguém no governo deu conta? Os assessores do Sócrates que 'usam todos o dito, porque nem precisam de outro computador' não deram com a coisa ? Nem no Ministério da Educação ? O Magalhães não foi experimentado no Ministério para se certificarem de que os conteúdos eram apropriados ? Uma iniciativa de tal envergadura para modernizar a educação do país e ninguém se deu ao trabalho ? Será que o Ministério sabia sequer exactamente que conteúdos vinham instalados? Deixem-me ver se eu percebo: o Magalhães serve para as crianças aprenderem ?

E os professores e os pais só agora é que deram conta ? O que é que aconteceu durante os últimos meses ? Ninguém viu ? Niguém alertou ? Só agora ?



2. Os outros netbooks também são uma treta. E não é pelo preço. Nem pela capacidade de processamento. É por dois outros motivos.

1.º:Um netbook tem uma grande vantagem: é pequeno e pesa pouco. Ideal para transportar para todo o lado. Essa é a vantagem apregoada pelos fabricantes. Mas sem o carregador, parece óbvio.

Portanto, os fabricantes que comercializam netbooks com baterias de 3 células em vez de 6, devem estar a brincar com os consumidores. Se eu tenho de levar o carregador, porque o Netbook não aguenta um dia inteiro, a razão de ser do portátil esfuma-se. Já não posso ir para todo o lado. A não ser que "todo o lado" inclua uma tomada. Ou então compro uma de 6 células, que alguns fabricantes vendem pela módica quantia de quase cem euros. Esfuma-se outra vez o objectivo: o netbook deve ser barato.

2.º: O ecrã. O ecrã dos netbooks é pequeno. Tem letras pequenas. Eu nem no meu antigo monitor de 15" acho que 1024 x 768 de resolução é aceitável, quanto mais 1024 x 600 num ecrã de 8,9", como é o do Magalhães, ou mesmo num de 10", como em alguns de outras marcas.

O segundo problema, destes e do Magalhães, é que não vamos andar todos os dias pelo campo, em plena luz do sol com o netbook. Mas parece que os fabricantes colocaram em todos os netbooks ecrãs excessivamente brilhantes, mesmo no mínimo. Um ecrã de secretária e o dos portáteis 'normais' conseguem ser muito menos luminosos no brilho mínimo. Um netbook, que devia poupar bateria, não consegue. Estranho não é ?

E o problema é que se associarmos um letra pequena a uma luminosidade forte, vamos ter crianças e adultos com os olhos cansados ao fim de poucos minutos. E não é por a letra ser pequena. A junção dos dois factores é que é problemática. Obriga o olho a fechar a íris para deixar entrar menos luz e a focar letras pequenas ao mesmo tempo. Um disparate.

E mais: embora pareça que o Magalhães não tem (o que para mim vai dar no mesmo, porque não consigo estar mais de cinco minutos a olhar para aquilo), praticamente todos os outros netbooks têm o ecrã retroiluminado a LED's. Os LED's são muito luminosos. Não é mau em si. O problema é que todos precisamos de ajustar o ecrã às nossas necessidades, e consoante o ambiente onde estamos.

Aí entra o problema: a tecnologia para fazer diminuir a intensidade do brilho dos LED's é cara. E, obviamente, não é empregue nos netbooks.

O que é que usam: uma tecnologia de desenrasque chamada "pulse width modulation", que faz parecer que o ecrã fica com menos brilho. E aí as pessoas com mais sensibilidade começam a ter problemas. É que esta técnica envolve ligar e desligar os LED's com mais ou menos rapidez, o que acaba por provocar um efeito semelhante aos antigos ecrãs de tubos de raios catódicos (CRT), com a agravante de aqui a luz emitida pelos LED's estar no brilho máximo. É como se estivéssmos a levar com a luz do sol, mas só de vez em quando. Acaba por fazer mal na mesma.

Portanto, enquanto a tecnologia não for aperfeiçoada, quando virem um Netbook que diga "LED LCD" já sabem, tenham cuidado, verifiquem bem, experimentem durante algum tempo, antes de comprar. Ou comprem numa grande loja cujo nome começa por F, e acaba em NAC, que aceite devoluções em 30 dias, sem motivo.

É que se forem sensíveis e não puderem devolver, ficam literalmente com um tijolo na mão.

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