O Tecnocas

O mundo real também passa por aqui

4/12/2009

A nostalgia - 2 de 3

Publicada por Aníbal Meireles |


Continuando esta viagem pela memória do computador que usei durante mais tempo até agora: sete longos anos, recheados de experiências.

Ia eu no desespero de jovem rapaz a querer jogar o Doom.. pois bem, não tive logo a possibilidade de jogar o Doom, mas apareceu lá em casa o Windows 95 Final Beta release.

Foi uma mudança radical na forma de usar o computador. Ainda hoje o desenho básico do Windows é o mesmo: barra de tarefas, relógio ao canto, botão do Start/Iniciar no outro, e os botões para fechar, maximixar e minimizar as janelas. O Windows 95 trouxe também menos complicação comparado com o duo Dos/Windows, programas mais estáveis, com mais funcionalidades, enfim, já não se podia voltar para trás. O futuro, que me apareceu em casa em ante-estreia, maravilhou-me. Tive portanto a sorte de o poder testar alguns meses antes de a versão final estar à venda, no final de Agosto desse mítico ano de 1995.

No Natal desse ano chegou a versão definitiva, e o dito pacote Plus! que dava ao Windows 95 um ar de graça, com temas coloridos e outras coisas úteis. Logo de imediato um muito necessitado acrescento de memória: de uns apertados 4Mb para uns muito razoáveis 12Mb - caríssimos. A memória ram era muito cara na altura. Aliás, na altura era quase tudo muito caro.

Em meados de 1996 lá fui comprar a minha porta de entrada para o Doom: um processador 486DX4 a 100Mhz - mais rápido, e com o famigerado co-processador matemático. A coisa compunha-se, fora de horas, é certo, mas compunha-se.

Chega 1997, Março de 1997. A internet aparecia a querer entrar em casa dos portugueses. Era complicado para quem não comprava o computador já configurado: era preciso comprar um modem, coisa ainda cara na altura: o meu Zoom, com uma espantosa velocidade de 33.6kbps custou à volta de 36 contos! E era preciso abrir o computador e andar a mexer em "jumpers" que mais não são do que peças de metal envoltas em plástico que estabelecem contacto entre dois determinados pinos, de modo a configurar o equipamento e evitar incompatibilidades com o computador. Também havia modems externos, mas pela velocidade relativa era preferível ter um interno. E se bem me lembro, os externos eram mais caros ainda.

Depois era rezar para conseguir configurar o software para por o modem a funcionar. Instalar o navegador da internet acabava neste processo por ser o mais simples.

Eis a internet. Netpac, da Telepac. Eu agora era um "Netman" (Nas palavras da própria Telepac), que navegava por sites simples, devagar, e a pagar MUITO. Além da conta da internet propriamente dita, uns respeitáveis cinco contos por cada trinta horas, recarregáveis no multibanco, ainda havia que pagar a conta do telefone: para efeitos de cobrança aquilo contava como uma chamada local normal (e no fundo até era, com a diferença de serem dois computadores a falarem entre si), portanto todo o tempo on-line, enquanto não desligássemos a chamada, ao contrário de agora, era a pagar. E que bem que se pagava. A conta do telefone às vezes tinha um acrescento que podia chegar aos seis contos! Chiça!

Os sites eram lentos, e havia pouca coisa de interesse para quem fosse jovem, como eu, e não estivesse propriamente interessado em gastar mais dinheiro em internet a ler a versão on-line do Público do que lê-lo em papel. E quem diz o público diz uma galeria de arte on-line, quando se calhar tínhamos o livro com as pinturas em casa.

Já mencionei que os sites eram lentos ? Por outro lado, uma das grandes ferramentas da altura era mesmo "teclar" na internet em tempo real, usando o IRC, por exemplo através do programa mIRC. Muito aprendi sobre música "falando" com gente de todo o país através do mIRC. E também se podia entrar em redes estrangeiras, um mundo ainda mais desconhecido, numa internet ainda pouco globalizada, no sentido de nos sentirmos à-vontade com tamanha proeza e possibilidade tecnológica!

Por outro lado, o e-mail em Portugal ainda estava a arrancar. As pessoas ainda mandavam cartas, postais, telefonavam. E-mail, na minha experiência, só sensivelmente dois anos depois é que se começou a usar com regularidade fora das empresas, quando as pessoas começaram a ter contas de internet estáveis, com um mesmo fornecedor, ou aproveitando-se dos serviços de e-mail gratuito que então começavam a ganhar visibilidade.

Estávamos em 1997 e eu estava na internet! Com o mesmo computador de sempre, mas paradoxalmente preparado para o futuro!

1 comentários:

Lady Godiva disse...

Março de 95; Março de 97...
Cheira-me a data especial, a prenda... até porque o Natal também é relevante na "viagem" nostálgica.
Pois, por essas datas, eu já estava tão crescida que mudava fraldas, dava biberões, fazia sopas com carne ou peixe passados...
Nostalgias diferentes relativas aos mesmos anos!
Curiosas as diferenças nas experiências humanas. Enquanto a alguns não escapam as antestreias, a outros escapa-se completamente o acontecimento!

Um beijo, Tecnocas!